quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Falo de racismo, eu mulher negra, e do que sou...

Começo o meu post "replubicando" uma entrevista com 10(dez) mulheres negras, que falaram para a revista Criativa e que saiu também no site: www.criola.org.br, sobre suas experiências enquanto Mulheres NEGRAS. 

"Eu senti na pele" 
10 mulheres negras falam sobre a discriminação de raça e gênero que vivenciam -

Por Flávia Martinelli com fotos de Juliana Coutinho 
Revista Criativa (Edição de Maio de 20004)

No Brasil, ninguém é racista. Os outros é que sempre são. Para falar sobre um assunto tão delicado no mês em que a abolição completa 116 anos, promovemos um debate com dez mulheres - todas negras, mas de diferentes idades e classes sociais. Acompanhe os melhores trechos do bate-papo: com a palavra, quem sofre preconceito
1. Malizi Fontoura Gonçalves, 22 anos, MC do grupo de hip-hop Anastácias, ganhador do Prêmio Hutus de melhor demo feminina em 2003, e estudante de Direito

2. Roberta Rodrigues, 22 anos, atriz que interpretou Berenice no premiado filme "Cidade de Deus". Na TV, foi a empregada Zilda de "Mulheres Apaixonadas". Atualmente está em "Cabocla". Nasceu, cresceu e mora no morro carioca do Vidigal

3. Dona Obassy, 66 anos, mãe-de-santo, sambista, poetisa e líder comunitária na favela carioca Cidade de Deus. Filha de Oba (mulher guerreira em ioruba), criou sozinha cinco filhas. Quatro têm curso superior; a caçula, adotada, está no Ensino Médio

4. Magali da Silva Almeida, 47 anos, assistente social, professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Coordena o Pro-Afro (Programa de Estudos e Debates dos Povos Africanos e Afro-americanos) e é responsável pela criação de uma disciplina sobre a temática do negro no Brasil no curso de Serviço Social da UERJ

5. Lúcia Helena Conceição de Souza, 45 anos, empregada doméstica, membro do sindicato da categoria de Volta Redonda (RJ)

6. Cláudia Talita Fontoura da Silva, 18 anos, DJ do grupo Anastácias

7. Monique Camilo, 20 anos, faz Direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Filha, neta e bisneta de domésticas, entrou na UFRJ graças às cotas para negros

8. Denise Fontoura da Silva, 22 anos, MC do grupo Anastácias e estudante de jornalismo

9. Isabel Fillardis, 30 anos, modelo e atriz. Tem oito novelas e três filmes no currículo. Eleita em 2002 a mais bela mulher negra do Brasil, foi a estrela da campanha do primeiro sabonete específico para esse público

10. Ruth de Souza, idade não revelada, atriz, mais de 50 anos de carreira. Foi a primeira negra a subir no palco do Teatro Municipal do Rio de Janeiro e a primeira brasileira a ser indicada para um prêmio internacional - o de melhor atriz no Festival de Veneza de 1954, pela atuação na novela "Sinhá Moça". Foi uma das fundadoras do Teatro Experimental do Negro e bolsista da Fundação Rockfeller, na Karamu House (EUA), onde estudou dança e música. 
A gente grita
"Para ter espaço, engoli sapo, perereca, rã" Ruth de Souza, atriz 
Ruth - Já que vivi várias épocas, vou começar a conversa [risos]. Minha mãe foi "cria" de uma família tradicional de Minas Gerais. Gostava de música, teatro, era finíssima. Quando meu pai morreu, eu tinha 9 anos e ela se mudou com três filhos para o Rio de Janeiro. Em Minas, ela era a dona Alaíde. No Rio, virou só a lavadeira que criava as crianças sozinha. Não éramos convidadas para as festas das meninas ricas - e convivíamos com elas. Essa diferença logo me tocou. Quando quis ser atriz, mamãe me apoiou, mas todos falavam: "Desiste. Não tem artista preta!". E não tinha mesmo. Dizem que as coisas estão melhorando. Melhorando nada! Se você não luta, não consegue. Estou há 40 anos na TV Globo e já engoli sapo, perereca, rã… Tudo para conquistar espaço. Quantas vezes fingi não ouvir certas coisas ou abri um sorriso falso para sair de uma situação? E eu sei que, na hora de negociar contrato, negro ganha menos. Graças a Deus, hoje posso dizer não. Não pude por muito tempo.

Lúcia Helena - Além de ganhar menos, a mulher negra enfrenta a questão da "boa aparência". No mercado de trabalho, boa aparência é ser branca. Sou empregada doméstica e a maioria das minhas colegas também é negra. Por quê? Nós não conseguimos emprego melhor.

Ruth - Já reparei que quase nunca há vendedora negra em loja de shopping.

Lúcia Helena - Tenho 45 anos e virei doméstica aos 12. Levou tempo para saber que sou cidadã. Antes, o patrão dizia "pago isso" e eu aceitava, porque não tinha outro jeito. Mas aí soube dos salários de algumas colegas e descobri meus direitos. Minha carteira foi assinada na marra. Agora sei que preciso me informar e me defender. Adianta? Não como deveria. Mas pelo menos a gente grita.


A cor da minha pele
"Dá para ficar calejada com o que acontece" Denise F. da Silva, MC do Anastácias 
Monique - A gente tem que se impor a todo momento mesmo. Até para afirmar o orgulho da própria negritude. Já cansei de ouvir: "Você não é negra, tem pele clarinha, cabelo bom. Pra que trançar esse cabelo?". As pessoas se incomodam por eu celebrar minha negritude. Dizem que eu sou parda, moreninha, menos negra. Como se fosse ofensa.

Ruth - Ninguém quer assumir sua negritude no Brasil. No Censo do IBGE, negro diz que é café-com-leite, marrom…

Denise - Eu, Malizi e Cláudia, nós do grupo Anastácias, somos do Rio Grande do Sul, onde o contexto é diferente, a população não tem nem 10% de negros. No Sul, é preciso endurecer para se impor. Dá até para ficar calejada com as coisas que acontecem. Eu e minhas amigas, todas negras, nos reuníamos num lugar em Porto Alegre e os playboyzinhos passavam por nós e diziam: "Suas macacas, vão arrumar esse cabelo".

Magali - No Brasil, somos vistas como cultura marginal. A gente sai de casa com todo o espírito de "sou negona" e é desrespeitada na rua. O preconceito opera aqui a partir da cor da pele, não da classe social. Mas há a nossa resistência.

Isabel - Aos 11 anos, quando comecei a trabalhar como modelo, era a única negra da agência. Sou filha de um militar e uma dona-de-casa, éramos pobres. Minhas melhores roupas eram da C&A e eu sempre dava um toque africano no meu visual. Agora, em 2004, reencontrei o dono da tal agência, que me disse: "É, apesar de tudo, você sempre andou bonitinha". Escutei e pensei: "Caramba, ele acha que é elogio dizer que, mesmo sendo negra e pobre, eu sabia me arrumar?".
"Temos que usar a estética que quisermos"Magali da Silva Almeida, professora da UERJ 
Magali - Quando a gente faz algo diferente, bota trancinha, vira uma coisa folclórica, exótica. Chego na universidade com minhas roupas coloridas, cabelo trançado e as pessoas falam: "Uau, Magali". Você vira motivo de admiração. E aí pode até surgir outro problema: você deixa de ser inteligente para ser a mais bela… Temos que usar a estética que quisermos. Quer cabelão black? Tenha. Você vai derrubar preconceitos o tempo todo mesmo. Uns dirão "que lindo", outros vão querer desinfetar com álcool.

Ruth - Sempre tive consciência de que precisava de uma postura diferenciada para vencer. Uma atriz negra não poderia copiar o comportamento das mocinhas brancas. Aprendi isso quando fui estudar nos Estados Unidos. Vi que os negros americanos gostam de estar bem arrumados, não tratam de negócios com roupinha de ir à feira. Eu não tinha dinheiro para comprar roupa, então pegava meia dúzia de peças clássicas e estava pronta. Até na Globo vi isso. Regina Duarte podia ir de sandália de sola de pneu, de qualquer jeito. A Beth Faria ia com roupa hippie e tudo bem. Eu, não. Tinha de ir arrumada, com roupa bem passada e limpa. O tratamento é diferente. As pessoas falam que já foram barradas por porteiro. Comigo nunca aconteceu. Acho que é a minha postura.


Discriminação
"Se você é negra, então é suspeita"Roberta Rodrigues, atriz 
Roberta - Mas acontecem coisas horríveis, sim. Em 2002 entrei numa loja para comprar roupas com uma amiga, ruiva, linda. Experimentamos várias peças que deixamos separadas para buscar no dia seguinte. Quando voltei à loja, notei que a gerente foi me seguindo. Como ainda tinha que experimentar outras peças, entrei no provador, mas essa senhora abriu a porta e gritou: "Você não vai vestir minhas roupas!" Eu estava quase nua, a loja cheia… Foi a pior coisa da minha vida. E antes de entrar no provador eu ainda deixei minha bolsa numa bancada, tive esse tipo de cuidado para evitar qualquer tipo de suspeita, sabe?

Malizi - Também tenho esse cuidado. De tanto ver segurança seguindo você em loja, vira um hábito automático policiar os próprios movimentos. Para ninguém pensar que você vai roubar algo.

Roberta - É terrível. As pessoas impõem isso 24 horas a você. Porque, se é negra, então é suspeita. Nesse dia em que a gerente me humilhou, chorei, me senti um lixo. Mas processei essa mulher. E ganhei. Não foi a única vez em que tive de ir à Justiça. Em outra ocasião, experimentei um brilho labial do mostruário de uma linha de maquiagem e a dona da loja me disse que ia passar álcool no produto! Saí e fui direto para a delegacia. No julgamento, essa mulher dizia para o juiz: "A menina é louca, eu amo todos os negros e pobres". Não quero que me ame! Quero que me respeite, e só.

Roberta - E há coisas piores. Uma amiga saiu de uma loja e foi jogada dentro do camburão da polícia! Na delegacia, viram que ela não tinha nada na bolsa.

Lúcia Helena - Fui com uma amiga, também negra, comprar um brinco a crediário e não conseguimos. Outra colega, branca, foi à loja, no salto, e fez a compra. Processamos e a loja teve que se desculpar. Quem é doméstica sofre duplo preconceito. Eu fazia faxina num condomínio chique, entrava todo dia pela portaria social e pegava o elevador social. Aí o segurança veio falar comigo. Respondi bem assim: "Para mim, todo mundo vai passar". E continuei fazendo o que queria. Sabia que estava calçada. Já tinha conversado sobre isso com a advogada do sindicato. As pessoas têm medo de ir atrás dos seus direitos. É questão de educação. Fui criada ouvindo que não podia nada. Mas a gente aprende.


O Brasil na TV
"Demorei para me descobrir cidadã"Lúcia Helena de Souza, doméstica 
Ruth - Uma minoria está aprendendo. O que me deixa revoltada é a falta de união e de reação da maioria. Fica aquela conversa: "Ah, a gente não pode isso, não pode aquilo. Não vão me deixar entrar porque sou negra". O que é que é isso? Eu toda vida cobrei. Na Globo mesmo. Em uma novela, haveria um desfile de moda e só tinha mulher branca para a cena. Questionei. O roteirista disse que tinha que mostrar a realidade. Ah, que realidade existe em novela? Já teve mulher que explodiu, homem que virou lobisomem! No dia seguinte, apareceram uns mulatinhos no desfile. 

Monique - Numa palestra, um autor de novela disse que não colocaria negros na sua trama porque não existem negros médicos, advogados… Que não corresponderia à realidade. A TV é 100% branca! Cadê o país mestiço? Só vale para o futebol e o samba? E os brancos não estariam "invadindo" esses espaços negros? Ninguém questiona.
Magali - Existem negros célebres, sim. E o engenheiro André Rebouças [empresário e abolicionista que viveu de 1.838 a 1.898 e revolucionou a técnica de construção de portos no Brasil]? E o escritor Machado de Assis? Por isso, insisto que educação é fundamental para diminuir o racismo. Nos Estados Unidos, há banda de funk cujos cantores são doutores em regência, e por grandes universidades. 


Educação e religião
"Comecei com um papel específico para negra" Isabel Fillardis, atriz 
Isabel - Não estudei para ser atriz. Entrei na TV para fazer um papel específico para negra e fui emendando trabalhos.

Magali - Mas o poder instituído pode buscar mecanismos para invalidar a sua competência. Se houver um branco que tenha qualificação, vão dizer: "Entrou no seu lugar porque tem título". E a sua competência vai para o ralo. Meu pai era office-boy em banco e chegou a subgerente - sub, porque preto não chegava à gerência. Hoje a história do meu pai não se repete: é preciso ter não sei quantos títulos e cursos para ser subgerente. Monique - Por falar nisso, quero falar das cotas. Sou filha, neta e bisneta de domésticas. Como elas, estudei em escola pública. Em 2003, entrei em Direito, na Universidade Federal do Rio de Janeiro pela cota para negros [em 2002, a UFRJ foi uma das universidades a implantar o sistema de cotas, corrigido depois. Hoje, 20% das vagas são reservadas para negros ou pardos de famílias carentes ou que estudaram em escola pública, 20% para alunos da rede pública e 5% para deficientes físicos]. Muitos diziam que os cotistas iriam baixar o nível da faculdade. Mas uma pesquisa revelou que os cotistas se deram até melhor [49% passaram de ano sem exame ou dependência, contra 47% dos não-cotistas]. Meu grupo de cotistas negros sai da aula e corre para discutir a matéria na biblioteca. A gente corre atrás.

"No tempo de estudar, tive que ir trabalhar" Dona Obassy, mãe-de-santo 
Magali - Vale lembrar que cota é política pública, não é caridade nem privilégio. A política deixa explícito para a sociedade que os brancos sempre tiveram praticamente 100% das cotas na educação. Há quem diga que o negro vai ser discriminado dentro da universidade por isso. E não é discriminado fora? Que vá à luta lá fora, só que mais qualificado.

Monique - Houve uma discussão sobre a menor pontuação de candidatos que entraram pelas cotas. Quer dizer que o aluno com maior pontuação é o mais capaz? Não acho. Há um caso famoso de um estudante de odontologia que obteve baixa pontuação em 2002. A universidade fez acompanhamento desse aluno e ele passou em todas as matérias. Então, não é que não somos capazes. É preciso melhorar o ensino público de um modo geral, para que todos possam competir em igualdade. 
Dona Obassy - Sempre sonhei em estudar, mas, no tempo de estudar, tive que trabalhar. Me aposentei como merendeira de escola. O que me realizou foi, em 2002, ver minha filha formada pela PUC. Eu só chorava na formatura dela: 30 anos antes, por causa de uma enchente que levou meu barraco, fiquei abrigada na mesma faculdade, com essa filha no colo. Hoje ela é assistente social e só pôde fazer universidade porque ganhou bolsa. 

"Ouvia que cadomblé é coisa do demônio" Monique Camilo, estudante de Direito 
Monique - Quando cheguei na universidade, pensava: "Não acredito que estou aqui!". Fiquei em estado de choque por estar realizando um sonho de gerações.

Magali - A experiência de se integrar a espaços tradicionalmente brancos é interessante. Sou a primeira da família a fazer universidade e, quando passei no concurso para ser professora da UERJ, também não acreditei. Até desmaiei. Caí, puft. Ali estava a nata pensante do Brasil! Me questionava: "Quem sou eu? Sou mulher da Baixada, negra, pobre". Ser mulher negra é diferente. Sempre faço questão de falar "nós, negras" para deixar claro o que represento. Somos herdeiras de grandes mulheres, violentadas na senzala. Representamos a resistência dessas mulheres que, depois da abolição, enfrentaram uma política para afastá-las da sociedade. Elas tiveram que ser domésticas, prostitutas… E, apesar de tudo, estamos aqui, fortes, dizendo que é preciso acreditar na nossa cultura.
Dona Obassy - Você tocou num ponto importante. Nossa cultura é atacada e negada pela sociedade diariamente. O que fazem com as religiões de origem africana? Sempre sofremos perseguição. Dessa vez, é dos evangélicos. Pastores dizem que o que faço é coisa do demônio, que as mulheres do candomblé são desocupadas. Até 1930, a prática era crime. Foi liberada, mas a perseguição continua.

Magali - As pessoas têm uma visão distorcida do candomblé. Nós, até. Veja minha história: fui criada na Igreja Católica. Depois, fui estudar minha herança africana. Há dois anos, um amigo me convidou para ir ao terreiro mais tradicional do Rio, o de mãe Meninazinha de Oxum. Ele me levou e não acreditei: ficava nos fundos da casa dos meus pais! Imagine, cresci ali e nunca tinha ouvido um batuque sequer! Meu ouvido não era educado para ouvir aquilo. 
Monique - Elogiei e peguei no colar de uma colega, e ela disse: "É uma guia [colar ritualístico]". Pensei: "Ai, meu Deus, o que vai acontecer comigo?". Tive medo. Cresci ouvindo que aquilo era coisa do demônio. A colega percebeu e falou algo que nunca esqueci: "Olha, tudo o que você sabe sobre a nossa religião foram os brancos que ensinaram". Vi o quanto eu era ignorante e preconceituosa.


A luta é de todos 
"A gente carrega uma carga pesada" Cláudia Talita da Silva, DJ do Anastácias 
Monique - A luta contra o racismo não é uma luta exclusiva do negro. O que queremos é uma sociedade mais justa e igualitária para todos. Negros representam 45% da população, de acordo com o IBGE. Devemos até ser mais… Como construir uma sociedade melhor com essa parcela excluída?

Cláudia - Falei pouco no debate, mas quero dizer que uma conversa como essa é importante porque a gente se sente menos sozinha [voz embargada, com lágrimas nos olhos]. Quando você assume a sua condição de mulher negra, começa a lutar por seu espaço, sente o tamanho da carga que carrega. Mas há montes de mulheres que não se deram conta de que é preciso despertar e se valorizar. Graças a Deus eu me encontrei no hip-hop, que me fortaleceu. 
Malizi - [emocionada] Ai, que choradeira. No começo dessa conversa, a gente falou sobre se policiar em lojas para que não pensem que vou roubar algo. Confesso que até na rua evito andar na calçada atrás de pessoas brancas. Não quero presenciar alguém agarrando a bolsa quando me vê. Mas agora faço um voto aqui de que vou cancelar esse meu policiamento constante. 

"Não ando atrás de branco. Evita suspeitas" Malizi Gonçalves, MC do Anastácias 

Denise - É preciso levar adiante os nossos sonhos. Muitas não se permitem sonhar. Eu me permito, sim, em nome de todas as negras que não puderam fazer isso no passado.


Ruth - A luta da mulher negra vai crescendo de acordo com a postura de cada uma de nós e com a vontade de a gente realizar coisas. É preciso unir forças, não tem jeito. E não podemos só reclamar que os brancos isso ou os brancos aquilo… Tenha força de vontade para realizar seu trabalho, seu estudo, sua carreira e seu sonho. Essa semana, decorei um texto que achei lindo. Diz assim: "Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida removendo pedras e plantando flores". Não é bonito?  




Apesar de ser uma entrevista antiga, os mesmos relatos continuam - os mesmos relatos, talvez não com elas, pois algumas ganharam fama na televisão e talvez não passem por isso hoje em dia, porém, existem várias negras, vários negros que passam por muita coisa, fato é que o preconceito sempre existiu e sempre existirá. Existe UMA coisa pior que o politicamente correto, aquela praga que transforma anões em “verticalmente diferenciados”, retardados em “especiais” e gordos em doentes coitadinhos. É a praga da discriminação condescendente. 
É o racista que não tem os cojones de dizer “não gosto de preto”. Não porque não goste, é pior que isso. É o racista que tem pena, acha que o sujeito não tem culpa de ter nascido NEGRO. Aí usa um monte de eufemismos não para negar a condição do objeto do discurso e sim para se mostrar com compaixão pelo outro.
Quem fala “crianças especiais” está negando, a menos que a criança em questão saiba voar, atravessar paredes, gerar campos magnéticos, falar com mortos e etc..
A atriz Juliana Alves, que já foi a formosa Suellen da novela global Caminho das Índias, estampou a capa da Playboy de outubro de 2009. Vejam só o trecho da capa:



"... A morena já havia recebido propostas para posar nua, mas só agora ela diz que “se sente segura”.


Gente como assim morena? Morena é a Juliana Paes, a Alves ao que me conste é negra, honorável sucessora da belíssima Isabel Fillardis no imaginário masculino, e contemporânea da Taís Araújo, mas essa já é do Lazaro Ramos.
Eu ouvi muito essa distorção, mas achei que tinha caído em desuso. Caramba, nem o termo politicamente incorreto para “negra bonita”, que é “mulata” se usa mais? Fala sério.
Será que ao usar “morena” e remover a Juliana de sua etnia o autor do texto quis fazer um “elogio”, dizendo que é bonita demais pra ser negra?
É isso que me passa. Já vi o uso do termo por exemplo em Capitães da Areia, mas a Bahia do começo do Século passado era muito mais propícia a racismo velado do que as redações dos informativos online do Século XXI.
Ao menos acredito eu, mas como também tenho um pé na senzala não devo ser tão inteligente, ou me chamariam de Mãe de Santo morena. 


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